Povos
do Pacífico - Oceania, Melanésia, Micronésia e Polinésia
Sucessivas ondas migratórias, que resultaram em misturas raciais, e o
prolongado isolamento geográfico deram origem, nas ilhas do Pacífico, a uma
ampla variedade de etnias que podem, no entanto, ser classificadas em poucos
grupos principais.
Os povos indígenas do oceano Pacífico vivem na Austrália e nos
arquipélagos situados a leste do litoral asiático. Essa região do mundo,
conhecida como Oceania, é formada pelo território continental australiano e
três grupos etnogeográficos de ilhas: Melanésia, Micronésia e Polinésia. A
população original da Austrália é composta pelos australóides ou aborígines,
que viveram também na Tasmânia até 1876. A Melanésia, cujo nome significa
"ilhas negras", compreende vários cordões insulares situados a
sudoeste do Pacífico e é habitada por povos de pele escura. A Micronésia, ou
"ilhas pequenas", se situa na zona tropical do hemisfério norte e sua
população apresenta elementos melanésios e polinésios, que apresentam, no
entanto, identidade étnica própria. A Polinésia, ou "muitas ilhas",
situa-se a leste dos grupos anteriores e é habitada por povos polinésios.
Entre 40.000 e 25.000 a.C. os aborígines chegaram à Austrália e à
Tasmânia por uma via terrestre que posteriormente submergiu, ou transportados
por canoas. As ilhas Nova Guiné e Melanésia começaram a ser povoadas por volta
de 30.000 a.C. e nelas, como na Austrália, as ondas migratórias se sucederam até
pelo menos o nono milênio a.C. Os aborígines e as etnias melanésias, entre as
quais se destaca a dos papuas da Nova Guiné, procedem da Indonésia e do sul da
Índia. O povoamento da Micronésia teve início no segundo milênio anterior à era
cristã, com grupos humanos procedentes da Indonésia, das Filipinas e da Melanésia.
A Polinésia começou a ser habitada também a partir do segundo milênio por povos
originários da Insulíndia e da Melanésia oriental. A ocupação humana da
Polinésia só se completou no século XIII da era cristã.
Grupos étnicos da Oceania -
O estudo da origem e evolução dos povos oceânicos é dificultado por sua
dispersão em mais de dez mil ilhas, distribuídas numa superfície oceânica de
750.000 km², não incluído o território australiano. A diversidade geográfica
teve importante papel no desenvolvimento dos inúmeros tipos de sociedade e
cultura da Oceania. A arqueologia e os estudos linguísticos contribuíram para
formar um quadro geral, embora incompleto, da história cultural dos
povos oceânicos.
Com raras exceções, como é o caso de algumas tribos do interior da Nova
Guiné, os povos da Austrália e das ilhas do Pacífico receberam intensa
influência da civilização ocidental e adotaram novas formas de vida, tanto por
escolha como por necessidade. Em razão disso, somente se conservaram algumas
características das culturas tradicionais. As principais características
raciais dos aborígines são pigmentação escura, cabelo ondulado ou crespo,
dolicocefalia (crânio ovalado), baixa estatura, dentes grandes, supercílios
proeminentes e prognatismo (projeção da mandíbula) acentuado.
No fim do século XVIII, quando os britânicos começaram a se estabelecer
na Austrália, os aborígines somavam aproximadamente 300.000 indivíduos,
agrupados em cerca de 500 tribos. Não conheciam a agricultura e sua alimentação
se baseava na coleta e na caça. Como armas, empregavam o arco e flecha, a lança
(com ponta de pedra) e o bumerangue.
Os aborígines praticavam o nomadismo em territórios demarcados para
cada tribo em torno de pontos onde se podia conseguir água. A organização
social se baseava no clã, constituído de várias famílias patriarcais vinculadas
pela veneração a um antepassado comum. Suas crenças religiosas estabeleciam
relações entre a ordem humana e a ordem natural e o totem de cada clã
representava as espécies associadas ao grupo humano. Somente os anciãos tinham
conhecimento da vida além do espaço e do tempo, o que lhes conferia autoridade
em assuntos sociais e rituais. A partir de sua experiência com a medicina tradicional,
o curandeiro procurava extrair o mal dos enfermos e lhes devolver a vontade de
viver. A morte era em geral atribuída a causas mágicas. A música, a poesia e a
dança, assim como as pinturas e gravuras em pedra, na casca de árvores ou na
terra podiam ter significado religioso ou puramente artístico.
Melanésios -
Provavelmente relacionados com a raça dos aborígines da Austrália e, como eles,
procedentes do sudeste da Ásia, os melanésios têm pele escura, cabelo crespo ou
ondulado, compleição robusta, crânio dolicocéfalo e grandes mandíbulas e
molares. Vivem na Melanésia e em parte da Micronésia, nas Filipinas e na
Malásia. Nessa classificação racial estão incluídos os papuas e os pigmeus
oceânicos. Os melanésios propriamente ditos vivem na Nova Guiné e nas ilhas
situadas a leste; os papuas habitam sobretudo as terras do golfo de Papua, na
Nova Guiné; e os pigmeus, as montanhas do interior dessa ilha.
Os povos melanésios apresentam grande diversidade cultural. Sua organização social se baseia no
grupo familiar, dentro do qual a herança pode ser transmitida por via
patrilinear, matrilinear ou por ambas as vias. Cada família, que costuma
possuir sua própria casa, construída diretamente sobre o solo ou sobre pilares,
junta-se a outras em clãs com antepassados comuns. Os clãs, por sua vez, se
unem em tribos. Algumas comunidades melanésias de Fidji e das ilhas Trobriand
formam grandes unidades políticas, mas o mais comum são as aldeias de 50 a 200
habitantes. A autoridade sobre a tribo é delegada a um chefe que, na maioria
dos casos, ascende à posição dominante por méritos pessoais e não por
hereditariedade.
A cultura tradicional dos melanésios somente conserva suas formas
originais em alguns lugares isolados do contato com a moderna civilização. A
religião, de tipo animista, se manifesta na dança e na música, atividades
artísticas que também são praticadas como divertimento. A arte melanésia, muito
rica e variada, alcança grande expressão no artesanato em madeira, conchas
marinhas, carapaças de tartaruga, fibras vegetais, plumas, flores etc.
Polinésios - Por
seus peculiares traços raciais, os polinésios parecem descender de uma mistura
de elementos caucasóides (brancos), mongolóides e melanésios. Têm pele clara,
cabelo ondulado ou liso e estatura mediana ou elevada. Vivem na Polinésia e em
parte da Micronésia e da Nova Zelândia.
A sociedade tradicional polinésia se baseava na grande família
patriarcal, na qual a autoridade se transmitia por ordem de primogenitura. As
famílias, praticamente auto-suficientes, se agrupavam em casarios ou aldeias.
Em Samoa, as aldeias costumavam ser protegidas por paliçadas, e as casas
consistiam de pilares de madeira, sem paredes, sobre os quais se sustentavam
telhados de palha.
A principal característica da cultura dos polinésios é sua adaptação ao
mar. Nenhum outro povo do Pacífico conseguiu se identificar de forma tão
completa com o oceano, o que se manifesta na apurada técnica de fabricação de
barcos, no sistema de navegação, na forma de vida altamente dependente da
pesca, nos costumes e nas crenças religiosas.
Cada grupo de ilhas desenvolveu técnicas artísticas próprias. No Havaí,
destaca-se a confecção de capas e toucados de plumas, enquanto na Nova Zelândia
sobressaem os entalhes de madeira e a construção de canoas de guerra dos
maoris. Exemplo único de escultura monumental são as grandes figuras de pedra
da ilha da Páscoa. Muito conhecidas também são as danças polinésias, nas quais
se combinam graciosamente movimentos de quadris e mãos. Os trabalhos em
madeira, casca de árvores, plumas etc, conservaram suas técnicas originais em
algumas ilhas, como Samoa e Tonga, enquanto em outras a arte autóctone se
fundiu com influências estrangeiras.
Micronésios - De
pele escura, cabelo ondulado ou crespo e baixa estatura, os micronésios se
diferenciam dos melanésios e dos polinésios principalmente pelo tipo físico.
Quando da chegada dos europeus, os indígenas da Micronésia habitavam pequenas
aldeias, de vinte a cinquenta habitantes, e viviam da pesca e da agricultura.
As cabanas consistiam de um único cômodo, mas uma construção maior, que servia
como lugar de reunião, erguia-se no centro do povoado. Os grupos, ligados por
laços de parentesco ou matrimônio, realizavam suas atividades sociais,
econômicas e políticas dentro de um sistema de ajuda mútua. A poligamia era
permitida, ainda que somente praticada pelos homens mais poderosos. A religião
animista incluía crenças em divindades naturais, espíritos vinculados a
localidades determinadas ou a funções específicas, e parentes ou amigos mortos
com quem se podia estabelecer comunicação.
Na Micronésia, distinguiam-se as culturas das ilhas altas e das ilhas
baixas. No entanto, ambos os grupos sociais compartilhavam a mesma confiança na
estabilidade da estrutura social frente à adversidade dos fenômenos naturais.
Entre as técnicas e artes micronésias sobressaem as canoas decoradas, as
pinturas sobre madeira das casas de Palau e as máscaras e figuras de madeira
das ilhas Mortlock.
Grupos linguísticos - As
línguas faladas nas ilhas do Pacífico pertencem majoritariamente à família
malaio-polinésia, também denominada austronésia por alguns autores, que se
divide em três grandes grupos: indonésio, polinésio e melanésio. Conjunto
bastante diferenciado, o grupo indonésio é integrado por diversas línguas e
dialetos derivados de uma língua comum já extinta. O grupo polinésio inclui
cerca de vinte línguas, faladas por todo o Pacífico, sobretudo nas ilhas da
Oceania, do Havaí à Nova Zelândia, e de Fidji à ilha da Páscoa. O grupo
destaca-se sobretudo pelo ramo micronésio, falado nos arquipélagos da
Micronésia e que serve de ligação entre o universo linguístico indonésio e as
diversas comunidades do Pacífico. O grupo melanésio é formado por dez conjuntos
distintos, com um total de cerca de 45 línguas.
Na Nova Guiné e ilhas vizinhas, tais como Timor e Halmahera, falam-se
línguas denominadas papu, embora essa denominação suscite divergências entre
especialistas. São mais de cem línguas que aparentemente não apresentam
parentesco genealógico, algumas das quais com poucas centenas de falantes.
Documentário: Os Trobriandeses
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