Antropólogos estudam a diversidade biológica em termos de clines, ou a gradação contínua no espaço da forma ou frequência de uma característica. A análise da cline de uma característica contínua, como o biotipo físico, controlado por uma série de genes, possibilita ao antropólogo a interpretação da variação global do biótipo do físico humano como uma adaptação ao clima.
De modo geral, pessoas nativas de regiões de clima frio tendem a ter o tronco maior (o que não equivale a supor que sejam gordas) que suas extremidades (braços e pernas), em comparação com as pessoas nativas de clima quente, que em geral são relativamente altas e esguias. É interessante ressaltar que o corpo alto e esguio surgiu na evolução humana há aproximadamente 2 milhões de anos. Uma pessoa com corpo grande e extremidades relativamente menores pode sofrer mais com o calor do verão que aquela com corpo esguio e extremidades relativamente longas. Contudo, a pessoa conservará o calor corporal necessário sob condições frias. O tronco grande tende a conservar mais calor que o esguio, porque tem área de superfície menor em relação ao volume. Em regiões quentes e planas, em contraste, as pessoas com corpo esguio conseguem liberar rapidamente o excesso de calor. O corpo esguio também provoca perda de calor por causa da razão entre área de superfície maior e volume.
Além de o clima provocar efeitos de longo prazo sobre a variação humana, também pode contribuir para a variação através do impacto sobre o processo de crescimento e desenvolvimento (adaptação de desenvolvimento).
Por exemplo, já se mostrou que alguns dos mecanismos fisiológicos para suportar o frio ou dissipar o calor dependem do clima em que o indivíduo vive quando criança.
Aqueles indivíduos que passam a juventude em climas muito frios desenvolvem modificações no sistema circulatório que fazem com que se sintam confortáveis em temperaturas que pessoas de clima quente não conseguem tolerar. Da mesma forma, o clima quente promove o desenvolvimento de glândulas sudoríparas de maior densidade, criando um sistema mais eficiente para manter o corpo resfriado.
Os processos culturais complicam os estudos sobre biótipo físico e adaptação climática.
Por exemplo, as diferenças de dieta, principalmente durante a infância, provocam variação no formato do corpo por meio de seus efeitos no processo de crescimento.
Outro fator complexo é a maneira de se vestir. Grande parte do modo como as pessoas se adaptam ao frio é cultural, não é biológico.
Por exemplo, os inuítes, povo do norte do Canadá, vivem numa região ártica onde faz frio a maior parte do ano. Para suportar isso, há muito tempo eles desenvolveram roupas adequadas para manterem seus corpos aquecidos. Assim, os inuítes (e outros povos esquimós) possuem, até certo ponto, ambientes tropicais artificiais dentro das vestimentas. Tais adaptações culturais permitem que os seres humanos habitem todas as regiões do planeta.
Alguns antropólogos sugerem que a variação de certas características, como o formato do rosto e dos olhos, está relacionada ao clima.
Por exemplo, os antropólogos biológicos já propuseram que o perfil de cabeça redonda e rosto chato, comum nas populações nativas no centro e no leste da Ásia, assim como na região ártica da América do Norte, é resultado de uma adaptação a ambientes muito frios. Embora esses aspectos sejam comuns nas populações asiáticas e ameríndias, existe considerável variação física dentro de cada uma delas. Alguns indivíduos que se disseminaram da Ásia para a América do Norte apresentam um formato de cabeça que é mais comum entre os europeus.
Palestra: A evolução da cor da pele e o clima
Em termos biológicos, a evolução é responsável pela grande diversidade e por tudo o que os seres humanos compartilham. A evolução também é responsável pelo surgimento de novas espécies ao longo do tempo.
O primatologista Frans de Waal afirmou que a
"evolução é uma ideia magnífica que já atraiu praticamente todas as pessoas do mundo que desejam ouvir os argumentos científicos".
Antes de abordarmos a questão da evolução humana, vamos analisar os outros primatas atuais para entender que tipo de animais eles são, o que têm em comum com os seres humanos e o que distingue as várias formas.
Ao nível do indivíduo, o estudo da genética mostra como as características são transmitidas aos descendentes, permitindo a previsão das probabilidades de que um determinado indivíduo apresente alguma característica fenotípica.
Com relação ao grupo, o estudo da genética tem significação adicional, pois revela como os processos evolutivos são responsáveis pela diversidade da vida na Terra.
Um conceito importante em Genética é o de população, grupo de indivíduos que se reproduzem.
Agrupamento de genes refere-se a todas as variações genéticas apresentadas pelos membros de uma população.
É dentro das populações que a seleção natural acontece, uma vez que alguns membros não contribuem em igual medida para a geração seguinte.
No plano da genética de populações, a evolução pode ser definida como mudança na frequencia de alelos da população. Alelos são formas alternadas de genes. Conhecida como microevolução, esta proporção relativa se modifica geração após geração, conforme o sucesso reprodutivo variável dos indivíduos que compõem uma população.
Quatro forças evolutivas são responsáveis pelas mudanças genéticas que fundamentam a variação biológica presente nas espécies atuais. Como a variação está no centro da evolução, essas forças evolutivas criam e padronizam a diversidade. São elas:
Mutação
A fonte principal da mudança evolutiva é a mutação de genes, pois constantemente ela introduz novas variações. Embora algumas mutações possam ser benéficas ou prejudiciais para os indivíduos, a maior parte delas é neutra. Entretanto, no sentido evolutivo, a mutação aleatória é inerentemente positiva, pois é a fonte mais importante de novas variações genéticas.
Novos aspectos do organismo, como andar sobre duas pernas, em contraste a andar com as mãos, como nossos parentes mais próximos, chimpanzés e gorilas, dependeram da mutação genética.
Uma mutação aleatória pode gerar um novo alelo. Este, por sua vez, criará uma proteína modificada que possibilitará a realização de uma nova tarefa biológica. Sem a variação provocada por mutações aleatórias, as populações não podem se modificar, ao longo do tempo, como respostas às mudanças ambientais.
Para as espécies que se reproduzem sexualmente, como os seres humanos, as únicas mutações com alguma consequência evolutiva são aquelas que ocorrem nas células sexuais, já que essas células formam as futuras gerações.
As mutações podem surgir sempre que ocorrem erros na reprodução durante a divisão das células.
Isso pode envolver alguma mudança em uma única base de uma sequência de DNA ou, em outro extremo, na realocação de grandes segmentos de DNA, inclusive de cromossomos inteiros.
Agora mesmo, enquanto estudo nosso assunto, o DNA de cada célula de seu organismo está se danificando. Felizmente, as enzimas que reparam o DNA procuram erros constantemente, eliminando os segmentos danificados e preenchendo os espaços vazios.
Esses mecanismos de reparo evitam doenças como o câncer e garantem que tenhamos uma cópia exata da hereditariedade de nossos pais. Os genes que controlam os reparos do DNA, portanto, formam uma parte crítica da formação genética de qualquer espécie.
Como nenhuma espécie consegue reparar perfeitamente o DNA, novas mutações surgem continuamente, de modo que todas seguem evoluindo.
Os geneticistas calcularam as taxas em que os vários tipos de genes mutantes aparecem. Nas populações humanas, elas variam aproximadamente cinco mutações por milhão de células sexuais formadas; no caso de uma anormalidade que provoca a ausência da íris no olho, até quase cem por milhão; e no caso de um gene relacionado a um tipo de distrofia muscular, a média é de aproximadamente trinta mutantes por milhão.
Os fatores ambientais podem aumentar a taxa de ocorrência das mutações. Tais fatores incluem certos corantes, antibióticos e produtos químicos usados na preservação dos alimentos. A radiação, de origem industrial ou solar, representa outra causa importante. Também existem evidências de que o estresse pode acrescer essas taxas, aumentando a diversidade necessária para a seleção, caso ocorra a adaptação bem-sucedida.
Nos humanos, assim como em todos os animais multicelulares, a própria natureza do material genético garante a ocorrência de mutações.
Por exemplo, o fato de os genes serem divididos por trechos de DNA que não fazem parte daquele gene aumenta as chances de que um simples erro de "edição" no processo de cópia do DNA provoque mutações.
Embora os indivíduos possam sofrer com isso, as mutações também conferem versatilidade às populações, fazendo com que uma espécie se adapte com maior rapidez às mudanças ambientais. É importante compreender que as mutações ocorrem aleatoriamente; portanto, não surgem da necessidade de alguma nova adaptação.
Deriva genética
Durante o período de vida, cada indivíduo está sujeito a uma série de eventos aleatórios que afetam sua sobrevivência.
Por exemplo, um esquilo com boa saúde e determinadas características positivas pode morrer em um incêndio casual na floresta; um filhote de puma geneticamente bem adaptado talvez não sobreviva mais que um dia, se a mãe morrer em uma avalanche, enquanto o filhote mais fraco de uma fêmea que não morre pode sobreviver.
Em uma população grande, tais acidentes naturais não são importantes. Os acidentes que preservam os indivíduos com certos alelos serão equilibrados pelos acidentes que os destroem. Entretanto, em populações pequenas, essa média talvez não seja possível e podem variar em função da casualidade.
Como hoje as populações humanas são muito grandes, podemos supor que o ser humano não seja afetado pela deriva genética. Contudo, um evento casual, como o deslizamento de uma rocha que mata cinco indivíduos em uma cidade pequena, com população de 10 mil pessoas, poderia alterar significativamente a frequência de alelos no agrupamento local de genes.
Fluxo de genes
Intercâmbio genotípico entre as populações
Outro fator que promove mudanças no agrupamento de genes de uma população é o fluxo de genes, a introdução de novos alelos (formas alternadas de genes) de populações próximas.
O cruzamento permite que genes "já testados" entrem e saiam de populações, aumentando assim a quantidade total de variação presente.
A migração de grupos ou indivíduos para territórios ocupados por outros pode provocar o fluxo de genes. Os fatores geográficos também afetam o fluxo.
Por exemplo, se um rio separa duas populações de mamíferos pequenos, evitando o cruzamento, elas começarão a acumular diferenças genéticas aleatórias por causa desse isolamento. Se o rio mudar seu curso e essas populações conseguirem cruzar livremente, os novos alelos, que podem estar presentes em apenas uma delas, passarão a existir em ambas, como resultado do fluxo de genes.
Entre os seres humanos, fatores sociais, como regras de acasalamento, conflitos entre grupos, ou nossa capacidade de viajar por grandes distâncias, afetam o fluxo de genes.
Por exemplo, nos últimos quinhentos anos, houve introdução de alelos nas populações das Américas Central e do Sul, tanto dos colonizadores espanhóis e portugueses quanto dos africanos trazidos como escravos.
As migrações mais recentes de pessoas da Ásia aumentaram essa mistura. Quando o fluxo de genes está presente, a variação aumenta. Em toda a história da vida humana na Terra, o fluxo de genes é importante porque evita que as populações se transformem em espécies diferentes.
Seleção natural
Embora o fluxo de genes e a deriva genética possam provocar mudanças na frequência de alelos de uma população, essa mudança não faria necessariamente com que ela fosse mais bem adaptada a seu ambiente social e biológico.
A seleção natural, força evolutiva descrita por Darwin, é responsável pela mudança adaptativa.
Adaptação corresponde a uma série de ajustes benéficos ao meio ambiente. Ela não é um processo ativo, é resultado da seleção natural.
Como veremos em nosso curso, os seres humanos conseguem se adaptar ao meio ambiente por intermédio da cultura, assim como da biologia. Quando a adaptação biológica ocorre no nível genético, a seleção natural entra em ação.
Seleção natural refere-se ao processo evolutivo pelo qual a variação genética no nível da população é formada para se adaptar a condições ambientais. Em outras palavras, em vez de uma seleção completamente aleatória de indivíduos cujas características serão transmitidas para a geração seguinte, existe a seleção realizada pelas forças da natureza. Nesse processo, a frequência das variações genéticas para características prejudiciais ou não adaptativas na população diminui, enquanto a frequência das variações genéticas para características adaptativas aumenta. Com o tempo, as mudanças na estrutura genética da população se tornam visíveis na biologia ou no comportamento, e tais mudanças podem resultar na formação de novas espécies.
A capacidade de adaptação de estruturas e funções orgânicas, mesmo que seja fonte de fascínio e admiração, não é perfeita. Isso acontece porque a seleção natural só opera com o que existe no estoque de variação genética; ela não consegue criar algo completamente novo.
A variação evita que as populações morram ou que as espécies desapareçam do ambiente em constante mudança. Citando um biólogo evolutivo, evolução é um processo de conserto, não de criação. Esse conserto geralmente envolve o equilíbrio de efeitos benéficos e prejudiciais de um determinado alelo em um ambiente específico.
Para compreender como funciona a evolução, é preciso entender os mecanismos da hereditariedade, pois a variação hereditária constitui a matéria-prima da evolução.
Nosso conhecimento sobre os mecanismos da hereditariedade é bem recente. As pesquisas mais fecundas no nível molecular da hereditariedade aconteceram nos últimos 50 anos. Alguns aspectos permanecem confusos, mas as linhas gerais já são claras.
Transmissão dos genes
Mendel formulou as leis básicas da hereditariedade fundamentando-as na frequencia estatística das características observadas, como cor e textura, em várias gerações de plantas.
Suas inferências sobre os mecanismos de hereditariedade foram confirmadas através das bases celulares e moleculares da hereditariedade na primeira metade do século XX.
Nesse período, os biólogos criaram o termo gene, a partir da palavra grega para "nascimento". Quando os cromossomos, as estruturas celulares que contém a informação genética, foram descobertos, forneceram um veículo visível para a transmissão das características propostas nas leis de Mendel.
Em 1953, os cientistas Watson e Crick descobriram que os genes são porções das moléculas de DNA cujas longas cadeias formam os cromossomos.
O DNA é uma molécula complexa com formato incomum: helicoidal
Essa organização confere aos genes a propriedade única de se reproduzirem, fazerem cópias exatas de si próprios.
Genes
A sequência da molécula de DNA é uma receita para a produção de proteínas. Qualquer aspecto regulatório, estrutural e químico que ocorre no corpo se deve a elas: geram energia, combatem infecções, digerem comida, formam pelos, transportam oxigênio etc.
Gene é definido então como a parte da molécula de DNA que contém uma sequência de pares base que codifica uma proteína específica.
O genoma humano - a sequência completa de DNA - contem aproximadamente 20 mil a 25 mil genes, número similar ao encontrado na maioria dos mamíferos.
O ser humano e os camundongos são aproximadamente 90% idênticos
Divisão da célula
Para crescer e manter a saúde, as células de um organismo devem se dividir e produzir novas células. A divisão celular se inicia com a reprodução dos cromossomos, formando um segundo par que duplica o par original de cromossomos do núcleo.
Como a maioria dos animais, os humanos se reproduzem sexualmente. Um dos motivos da popularidade do sexo, sob a perspectiva da evolução, é que oferece oportunidades para a variação genética.
Todo animal contém duas cópias de cada cromossomo, cada herdada de seu respectivo genitor. No ser humano, isso envolve 23 pares de cromossomos. A reprodução sexual reúne alelos benéficos e remove os prejudiciais ao genoma. Embora as sociedades humanas tenham sempre regulado a reprodução sexual de alguma forma, a Genética tem provocado grande impacto sobre os aspectos sociais da reprodução.
A reprodução sexual aumenta a diversidade genética, que, por sua vez, contribui para uma grande quantidade de adaptações entre espécies que se reproduzem sexualmente, como a humana.
Herança poligênica
A maior parte dos traços físicos, como altura, cor da pele ou suscetibilidade a doenças, é controlada por múltiplos genes. Nesse caso, fala-se de herança poligênica. Por exemplo,vários indivíduos podem ter exatamente a mesma altura, mas, como não existe um único gene que determina esse traço, não é fácil descobrir a estrutura genética de pessoas com 1,60m.
Da mesma forma que as navegações e a exploração européias trouxeram conhecimento sobre a diversidade da vida em toda a Terra, a construção e a mineração resultantes da industrialização na Europa aumentaram o conhecimento a respeito das mudanças nas formas de vida ao longo do tempo.
Os fósseis, restos preservados de antigas formas de vida, vieram à luz.
A princípio, os restos fossilizados de elefantes e tigres-dentes-de-sabre, na Europa, eram interpretados de acordo com a doutrina religiosa.
Catastrofismo - defendida pelo paleontólogo e anatomista francês George Cuvier, afirmava que eventos naturais, como o dilúvio descrito no Gênesis, eram responsáveis pelo desaparecimento dessas espécies.
Uniformitarismo - defendida pelo geólogo britânico Sir Charles Lyell, que explicava a variação na superfície da Terra pelo acúmulo gradual, durante longos períodos de tempo, de mudanças mínimas, provocadas pelos processos naturais, como erosão, que são imediatamente observáveis. O período de tempo requerido pelo uniformitarismo não era compatível com as interpretações literais da Bíblia, segundo as quais a Terra tinha apenas aproximadamente 6.000 anos.
Com a industrialização, os europeus sentiram-se mais confortáveis com o conceito de mudança e progresso. Consequentemente, parecia inevitável que alguém pensasse em evolução. Assim, no início do século XIX, muitos naturalistas passaram a aceitar a ideia de evolução da vida, embora não tivessem certeza como ela acontecia.
Foi Charles Darwin quem formulou uma teoria que resistiu ao tempo. Em uma viagem que durou quase cinco anos, ele percebeu a tremenda diversidade de criaturas vivas, bem como de fósseis aterradores animais extintos. Darwin começou a notar que as espécies variavam de acordo com o ambiente que habitavam. Em seu livro mais famoso, A Origem das Espécies, descreveu uma teoria da evolução no qual explicava as mudanças das espécies e o surgimento de novas, em termos puramente naturalistas.
Darwin organizou suas observações na teoria da seleção natural da seguinte maneira:
1. todas as espécies apresentam uma taxa de variação e todas têm a habilidade de se expandir além dos meios de subsistência.
2. contudo, na "luta pela sobrevivência", os organismos com variações que possibilitam sua sobrevivência em um ambiente específico se reproduzem melhor que aqueles que não as possuem.
3. portanto, conforme as gerações se sucedem, a natureza seleciona as características mais vantajosas e as espécies evoluem.
Embora a ideia da evolução pela seleção natural possa parecer simples e direta, a teoria foi (e ainda é) motivo de controvérsia considerável.
Dois problemas atormentaram Darwin durante toda sua carreira.
1. Como surge a variação?
2. Qual é o mecanismo de hereditariedade pelo qual as características variáveis podem ser transmitidas de uma geração a outra?
Mendel
Algumas das informações de que Darwin precisava, as leis básicas da hereditariedade, surgiram depois d'A Origem das Espécies, através dos experimentos do monge católico Gregor Mendel.
Ele tinha entendimento intuitivo sobre herança biológica. Entretanto, reconheceu a necessidade de explicações teóricas e iniciou experiências cuidadosas de reprodução no jardim do monastério, começando com ervilhas.
Apesar de ter publicado em 1866, as descobertas e a importância da pesquisa de Mendel não foram reconhecidas durante sua vida. Contudo, em 1900, a biologia celular havia avançado a um ponto em que a redescoberta do trabalho de Mendel foi inevitável. Essa redescoberta marcou o início da ciência genética.
A partir de então, os mecanismos moleculares da hereditariedade e as distintas unidades de herança seriam descobertos. Atualmente, o entendimento completo sobre hereditariedade, genética molecular e genética das populações fundamenta a teoria da evolução de Charles Darwin.
Carl Lineu elaborou o Sistema da Natureza, no século XVIII, para classificar a diversidade dos seres vivos coletados em todas as partes do mundo durante as viagens marítimas e levados para a Europa. O compêndio por ele elaborado refletia o novo entendimento sobre a vida na Terra e a posição da humanidade entre os animais.
Lineu observou a semelhança entre humanos, macacos e grandes símios e os classificou como primatas. Os primatas não são os primeiros animais da Terra, nem os melhores, são apenas um entre os muitos tipos de mamíferos, animais com o corpo coberto de pelos que amamentam os filhotes.
Em outras palavras, Lineu classificou os seres vivos em categorias progressivamente mais inclusivas, com base em semelhanças visuais internas e externas.
As espécies são as menores unidades no sistema de classificação biológica. As espécies são populações com reprodução isolada ou grupos de populações capazes de cruzar e produzir descendentes férteis.
As espécies são subdivisões de grupos maiores e mais inclusivos chamados gêneros. Os seres humanos, por exemplo, estão classificados no gênero Homo e na espécie Sapiens.
Lineu baseou seu sistema de classificação nos seguintes critérios:
1. Estrutura do corpo
2. Função do corpo
3. Sequência do crescimento do corpo
A taxonomia moderna, ciência da classificação, retém a estrutura do sistema de Lineu, mas baseia-se em outros aspectos além da estrutura do corpo, função e crescimento.
Atualmente, os cientistas também comparam a estrutura das proteínas e o material genético para construir as relações entre os seres vivos.
Essas comparações moleculares, mesmo de parasitas, bactérias e vírus, permitem que os cientistas classifiquem ou tracem as origens de doenças específicas como a SARS (síndrome respiratória aguda severa, em inglês) ou o HIV (vírus da imunodeficiência humana). A ênfase na genética em vez de na morfologia provocou a reformulação da designação taxonômica na família humana, entre outras.
Documentário: Classificação dos seres vivos - Enciclopédia Britânica
primatas - grupo de mamíferos que inclui lêmures, lóris, macacos, grandes símios e humanos
mamíferos - classe de animais vertebrados que se distingue por ter o corpo coberto de pelos, temperatura auto-regulável e, nas fêmeas, glândulas mamárias que produzem leite.
espécie - menor unidade no sistema de classificação. Entre os organismos vivos, as espécies são populações ou grupos de populações capazes de cruzar e produzir descendentes férteis.
gênero (1) - No sistema de classificação de plantas e animais, um grupo da mesma espécie
taxonomia - ciência da classificação
analogias - em biologia, estruturas superficialmente similares apresentadas por diferentes organismos em virtude da função semelhante, sem compartilhar estruturas de desenvolvimento comum.
homologias - em biologia, estruturas apresentadas por dois diferentes organismos que surgem de modo similar e sofrem estágios semelhantes durante o desenvolvimento embrionário, embora possam ter funções diferentes.
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Exercícios: (UFSC 2011) As figuras abaixo mostram o verso das cédulas de real atualmente em circulação:
Sobre a imagem de animais representados nas cédulas, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).
UEPG - Em 1735, o botânico sueco Lineu publicou o trabalho Systema naturae, no qual propôs a classificação dos seres vivos em grupos, hoje chamados táxons, que constituem uma hierarquia. As categorias taxonômicas por ele propostas ainda são mantidas até os dias atuais, com algumas poucas modificações. Sobre seu trabalho e a taxonomia atual assinale o que for correto.
01) A sequência correta para as categorias taxonômicas atualmente é: reino – classe – filo – ordem –gênero – família – espécie.
02) O critério básico da classificação de Lineu, quando ainda não havia surgido a teoria da evolução biológica, era a semelhança anatômica entre os organismos, pois as espécies eram consideradas tipos padrões e imutáveis, conceito este chamado de fixismo.
04) Em vez de serem "tipo" imutáveis, caracterizados apenas pela anatomia, as espécies são hoje classificadas segundo critérios fisiológicos, embriológicos, bioquímicos, genéticos e ecológicos, que
podem revelar mais corretamente seus parentescos naturais e evolutivos.
08) Atualmente foram acrescentados mais dois táxons às categorias taxonômicas propostas por Lineu: o filo e a família.
16) Nesse sistema de classificação havia dois grandes grupos: reino vegetal e reino animal. Dentro de cada reino eram reunidas várias classes; numa classe, várias ordens; numa ordem, vários gêneros e num gênero, várias espécies.
FGV - O sistema de classificação taxionômica ainda hoje utilizado foi elaborado por Carl von Linné 101 anos antes de Charles Darwin publicar A Origem das Espécies. Para Lineu, a invariabilidade das espécies é a
condição da ordem na natureza. Para Darwin, nossas classificações deveriam se tornar, até onde for possível adequá-las, genealogias. Já no início do atual século, o pesquisador norte-americano Kevin de Queiroz propôs que adotássemos um novo código de classificação, no qual se perderiam as categorias taxionômicas mais amplas do sistema lineano (praticamente do gênero para cima) e que fosse norteado pelas relações de proximidade evolutiva entre os seres vivos. A partir do texto, pode-se dizer que:
a) o sistema lineano de classificação não permite visualizar as relações de ancestralidade e descendência entre os seres vivos.
b) mesmo após a publicação do livro de Darwin, o sistema lineano foi mantido por esclarecer acerca das relações evolutivas entre as espécies.
c) para Darwin, a classificação taxionômica deveria ser readequada para que refletisse o grau de semelhança morfológica entre as espécies.
d) para o pesquisador Kevin de Queiroz, as espécies não têm mportância quando da construção de um sistema de classificação taxionômica.
e) Lineu antecipou, em 101 anos, os conceitos evolutivos posteriormente postulados por Darwin, conceitos estes atualmente questionados por Kevin de Queiroz.
Um exemplo excelente de como os processos históricos e culturais conseguem formar o pensamento científico está no desenvolvimento da biologia e de seu conceito principal, a evolução.
À medida que os europeus exploraram outras terras, seu pensamento em relação ao mundo natural modificou-se, a descoberta de novas formas de vida contestou a noção existente de que a vida na Terra era imutável.
Antes disso, os europeus organizavam os seres vivos e os objetos inanimados da mesma forma, em escala, uma hierarquia chamada Grande Cadeia dos Seres, abordagem que tinha como base os conceitos desenvolvidos por Aristóteles, na Grécia antiga, há mais de 2000 anos.
As categorias baseavam-se em semelhanças visíveis, e um membro de cada grupo era considerado "primata", que significa o primeiro ou o melhor do grupo.
Por exemplo, entre as rochas, o diamante é a melhor, o primeiro dos pássaros é a águia, e assim por diante. O ser humano estava no topo da escala, logo abaixo dos anjos.
Esse sistema de classificação persistiu até que Carl Lineu elaborou o Sistema da Natureza, no século XVIII, para classificar a diversidade dos seres vivos coletados em todas as partes do mundo durante as viagens marítimas e levados para a Europa. O compêndio por ele elaborado refletia o novo entendimento sobre a vida na Terra e a posição da humanidade entre os animais.
A evolução, o princípio mais importante que organiza as ciências biológicas, também descreve a diversidade da vida na Terra.
As teorias da evolução apresentam mecanismos de mudança e explicações sobre como surgiu a variedade de organismos, do passado e do presente.
Contudo, a evolução difere das narrativas sobre a criação (mitos de criação), pois explica a diversidade das formas de vida em linguagem científica consistente, empregando idéias que podem ser testadas (hipóteses).
Os cientistas contemporâneos comparam os organismos vivos para testar hipóteses elaboradas pela teoria da evolução.
Por meio de suas pesquisas, os cientistas já decifraram a base molecular da evolução e os mecanismos pelos quais as forças evolutivas atuam sobre as populações de organismos.
Embora as teorias científicas considerem o ser humano um organismo biológico, os processos históricos e culturais também compõem uma teoria da evolução e aumentam nossa compreensão sobre ela.
Um aspecto comum das mitologias de diferentes povos é a narrativa que explica o surgimento dos seres humanos na Terra.
O relato de criação registrado no Livro do Gênesis explica a origem do homem.
Com a mesma função, mas completamente diferente, é a crença tradicional dos nez perce, povo indígena da região leste do Oregon e Idaho, estados dos Estados Unidos
O coyote Vs wishpoosh
Para os nez perce, o ser humano foi criado pelo coyote, um trickster, habitante da terra antes dos homens. O coyote perseguiu o monstro wishpoosh, um castor gigante, por toda região, e deixou um rastro que formou o rio Columbia. Quando conseguiu capturar wishpoosh, matou-o, arrastou o corpo para a beira do rio e o cortou em pedaços. Cada parte do corpo se transformou em um dos povos que habitam a região. Os nez perce foram criados a partir da cabeça de wishpoosh, o que lhes confere grande inteligência e habilidade com cavalos.
As histórias sobre a criação representam a relação entre o ser humano e o restante do mundo natural, refletindo, às vezes, uma ligação profunda entre as pessoas, os animais e a Terra.
Na narrativa tradicional dos nez perce, os povos surgiram de partes específicas do corpo, cada uma com talento especial e relação com determinado animal.
Em comparação, a narrativa apresentada no Gênesis enfatiza a singularidade do ser humano e o conceito de tempo: a criação descrita como uma série de ações ocorridas em seis dias. O ato final da criação divina é, a partir do barro, moldar o primeiro homem, à sua própria imagem e semelhança, antes do sétimo dia, quando Ele, Deus, descansou.
Polêmica: Criacionismo X Evolucionismo?
Darwin, na verdade, não se propôs a explicar como a vida surgiu, mas como ela evoluiu. Outras hipóteses, científicas, foram formuladas acerca desse tema controverso. Assista o vídeo.