Determinado sistema econômico é um conjunto organizado para produção, distribuição e consumo de bens.
Uma vez que um povo, na busca por certo meio específico de subsistência, necessariamente produz, distribui e consome, é obvio que nossa discussão sobre padrões de subsistência envolve os aspectos econômicos. Contudo, os sistemas econômicos englobam muito mais do que se discutiu até agora.
Embora os antropólogos tenham adotados teorias e conceitos da economia, a maioria reconhece que os princípios teóricos derivados do estudo de economias de mercado capitalistas têm aplicação limitada aos sistemas econômicos em sociedades que não são industrializadas e onde as pessoas não produzem e trocam bens para lucro próprio.
Isso acontece porque, nessas sociedades que não são consideradas Estados, a esfera econômica de comportamento não se separa das esferas social, religiosa e política.
Em cada sociedade, costumes e regras específicas determinam o tipo de trabalho, quem o realiza, as atitudes em relação a ele, como é feito e quem controla os recursos necessários para a produção de bens, conhecimento e serviços necessários.
Os recursos básicos em qualquer cultura são matéria-prima, tecnologia e mão-de-obra. As regras que direcionam o uso desses recursos estão inseridas na cultura do povo e determinam como a economia opera em qualquer ambiente natural específico.
Controle dos recursos naturais (terra e água)
Toda sociedade regula a alocação de recursos naturais valiosos, principalmente terra e água.
Os coletores devem determinar quem caça e coleta plantas e onde essas atividades acontecem.
Os grupos que dependem da pesca ou da agricultura precisam decidir quem realiza tal tarefa, em que área de terra ou de água.
Os agricultores devem ter alguma maneira de determinar o direito à terra e o acesso a suprimentos de água para a irrigação.
Os pastores necessitam de um sistema que estabeleça direitos a locais com água e pastagens, assim como a áreas por onde conduzir as manadas.
Nas sociedades capitalistas do ocidente, geralmente prevalece o sistema de propriedade privada da terra e direito a recursos naturais. Por exemplo, embora existam leis elaboradas para regulamentar a compra, a posse e venda de terras e recursos hídricos, se o indivíduo deseja realocar uma área valiosa para outros fins, normalmente obtém permissão.
Nas sociedades não industriais tradicionais, a terra, no geral, é controlada por grupos com afinidades ou parentesco, não por um único indivíduo.
Por exemplo, entre os ju/'hoansi, do deserto do Kalahari, cada grupo de dez a trinta pessoas vive em uma área de aproximadamente 650 quilômetros quadrados, considerada seu território, seu próprio país. Esses territórios não são definidos por fronteiras, mas pelos locais onde existe água.
A terra é "propriedade" dos membros mais antigos, de modo geral um grupo de irmãos e irmãs ou primos. Seu conceito de propriedade da terra, porém, não é fácil de ser traduzido nos termos ocidentais modernos de propriedade privada. Basta dizer que, de acordo com sua visão tradicional, nenhuma parte do território pode ser vendida ou trocada por outros produtos. Os estranhos devem pedir permissão para entrar no território (terra natal), mas negar a autorização seria algo impensável.
Os povos coletores costumam definir territórios com base em características básicas:
- poços de água (como entre os ju/'hoansi)
- rios e riachos (como entre os indígenas da região nordeste dos Estados Unidos)
- locais específicos onde se acredita que morem os espíritos ancestrais (como entre os aborígenes da Austrália)
O valor adaptativo é óbvio: a extensão do território, assim como o tamanho do grupo, pode ser ajustado para equilibrar a disponibilidade de recursos em uma área específica. Tal ajuste seria mais difícil em um sistema de propriedade individual de um território com limites claramente demarcados.
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